“Nenhum nu, ainda que abstrato, deve deixar de despertar no espectador algum vestígio de sentimento erótico, ainda que seja uma leve sombra – e se ele não o faz, então trata-se de arte ruim e de falsas morais.” (Kenneth Clark, Historiador de Arte)
Foto: Maria Pacca, aula sobre Arte & Erotismo |
Foto: Maria Pacca |
Ele se manifesta através da sexualidade, sim, ok, mas que tal transpormos este prazer (ou pelo menos a busca dele) para outras áreas do dia a dia? Como por exemplo, com a mesma sensação de prazer, realizar o trabalho que ama, com o mesmo brilho, com a mesma gana, sim, com o mesmo tesão. Ou então, com a mesma vontade despertada por ele, passional e também física (por que não), dizer que ama, demonstrar essa ânsia, mostrar que está apaixonado, presentear alguém, passear num parque olhando a natureza com o mesmo tesão de vida que tem quando treme pelo sexo ideal.
É simples, tem que transpor as sensações físicas que o corpo demonstra enquanto é sexualmente desperto, quando, por exemplo, olha pra uma imagem que lhe instigue eroticamente, para as demais vontades da vida. Vocês devem estar pensando que sou um lascivo e que ando por aí olhando as árvores e me excitando, mas não.
Foto: Gabriella Teodozio |
Falo é da delícia que é viver, fazer o que gosta, provocar o bem e a alegria nas pessoas, e que a atração faz parte desse prazer. O erótico a que me refiro não é somente aquele que lhe instigará transar, mas principalmente aquele que lhe justificará viver. Experimente hoje cozinhar, que seja, com o mesmo tesão com que deseja alguém e sirva à esposa, aos amigos, ao namorado, enfim, entenderá o que digo.
É neste ponto, desejo versus vida, que o erotismo converge na Arte. Nela, ele lhe faz pensar desejosamente e, também por isso, tão necessário. Quando desejamos, a busca é consequente e fazer, o resultado. Quando o mestre historiador inglês, sir Clark, pontua como ruim a arte que não desperta este sentimento é provavelmente deste arbítrio e de todos os prazeres que ele pressupõe a que ele se refere. E o nu é o que faz isso, o nu tem esta propriedade, graças a Deus (simmmmm a Deus)!!!!
Há no erótico um monte de cobiça, sem dúvida, porém desvincule o objeto sexual dela e encontrará tantas outras formas de prazer. Mas é claro que, sem hipocrisia nenhuma, essa concupiscência da carne, essa lascívia, faz parte e, por favor, que continue sempre existindo; e ainda espero pelo dia em que nossa visão sobre o sexo deixe de ser este monstro arguidor, meticulosamente instaurado pela igreja. E o engraçado é que, paradoxalmente instaurado né?! É na Arte religiosa que moram as obras mais eróticas da história, pesquisem no Google pra vocês verem. Será mesmo só uma coincidência?
Foto: Gabriella Teodozio |
Foto: Gabriella Teodozio |
Poxa, o que mais posso fazer senão ficar feliz? Isso me mostra que estou fazendo meu trabalho direito. A partir daí reverto esta felicidade em estímulos de novas significações e procuro dizer, de um jeito improvisado, que usem este desejo em seus traços, em suas pinceladas, depositem esse desejo nos movimentos de seus braços e todo o corpo enquanto me representam, que transponham a vontade de transar comigo para a argila ou para a ocular de sua máquina fotográfica, que com certeza o resultado será surpreendente. Volto a dizer, quando a gente faz as coisas com tesão o resultado é muito melhor.
Foto: Gabriella Teodozio |
Foto: Maria Pacca |
Por isso sempre digo que os artistas serão sempre aqueles que estarão mais à frente nas reflexões humanas, pois trabalhamos e produzimos aquilo que possibilita o mundo conhecer outras, novas e infinitas realidades. “Bora” gozar a vida?
Foto: Gabriella Teodozio |
*** O curso de Arte & Erotismo é ministrado pela artista plástica Maria Pacca e tem a minha contribuição. Para mais informações, por favor, direcionem e-mail para julianohollivier@ig.com.br.
Ótimos posicionamentos, Juliano. Acredito que o caminho é esse mesmo, o de tentar canalizar o tesão, a vontade e o desejo em tudo que se faz. Seu trabalho obviamente não poderia deixar de seu erótico e é isso que o faz tão belo. Parabéns
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